quinta-feira, 9 de julho de 2009

O fascismo na Itália

Mussolini e Hitler em Veneza, 1934

Mussolini fundou o movimento fascista em 23 de março de 1919, numa reunião feita na cidade de Milão. Entre os membros fundadores estavam os líderes revolucionários sindicalistas Agostino Lanzillo e Michele Bianchi.

Em 1921, os fascistas passaram a desenvolver um programa que exigia a república, a separação da igreja do estado, um exército nacional, um imposto progressivo para heranças e o desenvolvimento de coperativas.

O estado fascista de Mussolini foi estabelecido aproximadamente uma década antes da chegada de Hitler ao poder. Tanto um movimentos como um fenômeno histórico, o fascismo italiano foi, em muitos aspectos, uma reação à falha aparente do laissez-faire e ao medo dos movimentos de esquerda, apesar de que as circustâncias na história intelectual devem ser consideradas, como o abalo do positivismo e o fatalismo generalizado do pós-guerra na Europa.

O fascismo foi de certa forma o resultado de um sentimento geral de ansiedade e medo dentro da classe média na Itália do pós-guerra, que surgiu no seguimento da convergência de pressões interrelacionadas de ordem económica, política e cultural. Sob o estandarte desta ideologia autoritária e nacionalista, Mussolini foi capaz de explorar os medos perante o capitalismo numa era de depressão pós-guerra, o ascendente de uma esquerda mais militante, e um sentimento de vergonha nacional e de humilhação que resultaram da "vitória mutilada" da Itália nos tratados de paz pós Primeira Guerra Mundial. Tais aspirações nacionalistas não realizadas (ou frustradas) manchavam a reputação do liberalismo e do constitucionalismo entre muitos sectores da população italiana. Adicionalmente, tais instituições democráticas nunca cresceram ao ponto de se tornarem firmemente enraizadas na nova nação-estado.

À medida que essa mesma depressão do pós-guerra fez crescer a sedução pelo Marxismo entre o proletariado urbano, ainda mais desprovido de direitos do que os seus contrapartes no continente, o receio relativamente à força crescente do sindicalismo, o comunismo e o socialismo proliferaram entre a elite e a classe média. De certa forma, Benito Mussolini preenchia um vácuo político. O Fascismo emergiu como uma "terceira via" — como a última esperança da Itália para evitar o colapso iminente do "fraco" liberalismo italiano, e a revolução comunista.

Ao mesmo tempo que falhava em delinear um programa coerente, o fascismo evoluiu para um novo sistema político e económico que combinava o corporativismo, o totalitarismo, nacionalismo, e anti-comunismo num estado desenhado por forma a unir todas as classes num sistema capitalista, mas um novo sistema capitalista no qual o estado detinha o controlo da organização de indústrias vitais. Sob a bandeira do nacionalismo e poder estatal, o Fascismo parecia sintetizar o glorioso passado romano com uma utopia futurista.

A sedução pelo movimento, a promessa de um capitalismo mais ordenado após uma era de depressão económica do pós-guerra, no entanto, não se confinava à Itália ou mesmo à Europa. Por exemplo, uma década mais tarde, quando a Grande Depressão originou uma queda da economia brasileira, uma espécie de proto-fascismo iria emergir como reacção aos problemas socio-económicos, e consciência nacionalista do estatuto periférico da economia do Brasil. O regime de Getúlio Vargas adotou uma extensa influência fascista com a Constituição do Estado-Novo, redigida por Francisco Campos, eminente jurista filiado ao Partido Fascista Brasileiro.

Fundado como uma associação nacionalista (o Fasci di Combattimento) de veteranos da Primeira Guerra Mundial em Milão a 23 de Março de 1919, o movimento fascista de Mussolini converteu-se num partido nacional (o Partito Nazionale Fascista) após ter ganho 35 assentos no eleições ao parlamento de Maio de 1921. Inicialmente combinando elementos ideológicos da esquerda e da direita, ele alinhava pelas forças conservadoras pela sua oposição às ocupações a fábricas de Setembro de 1920.

Apesar dos temas da reforma social e económica no manifesto fascista inicial de Junho de 1919, o movimento foi apoiado por secções da classe média, receosos do socialismo e do comunismo, enquanto que industriais e donos de terra viram-no como uma defesa contra a militância trabalhista. Sob a ameaça de uma "Marcha sobre Roma fascista," Mussolini assumiu em Outubro de 1922 a liderança de um governo de coligação de direita incluindo inicialmente membros do partido popular, pro-Igreja.

A transição para uma ditadura assumida foi mais gradual do que na Alemanha uma década mais tarde, apesar de em Julho de 1923 uma nova lei eleitoral ter dificultado a constituição de uma maioria parlamentar fascista, e o assassínio do deputado socialista Giacomo Matteotti onze meses mais tarde mostrou os limites da oposição política. Em 1926 os movimentos de oposição tinham sido declarado ilegais, e em 1928 a eleição ao parlamento era restrita a candidatos aprovados pelos fascistas.

O feito político mais duradouro deste regime foi talvez o Tratado de Latrão de Fevereiro de 1929 entre o estado italiano e a Santa Sé, pelo qual ao Papado foi concedida a soberania sobre a Cidade do Vaticano e recebeu a garantia do livre exercício do Catolicismo como a única religião do estado em toda a Itália em retorno da sua aceitação da soberania italiana sobre os anteriores domínios do Papa.

Os sindicatos e associações de trabalhadores foram reorganizados em 1934 em 22 corporações fascistas combinando trabalhadores e empregadores por sector económico, cujos representantes em 1938 substituíram o parlamento como a "Câmara de Corporações". O poder continuava investido no Grande Conselho Fascista, o corpo governativo do movimento.

Nos anos 1930, a Itália recuperava da Grande Depressão, e obtinha o crescimento económico em parte pela substituição de importações pela produção doméstica (Autarchia). A drenagem dos pântanos de Pontine a sul de Roma, empestados de malária, foi um dos orgulhos badalados do regime. Mas o crescimento foi minado pelas sanções internacionais impostas à Itália no seguimento da invasão da Etiópia em Outubro de 1935 (a Segunda Guerra Ítalo-Etíope), e pelo forte esforço financeiro que o governo fez para apoiar militarmente os nacionalistas de Franco na Guerra Civil Espanhola.

O isolamento internacional e o seu envolvimento comum na Espanha vão fazer ressaltar uma crescente colaboração diplomática entre a Itália e a Alemanha Nazi. Isto fez-se reflectir também nas políticas domésticas do regime fascista italiano, as primeiras leis anti-semitas foram passadas em 1938.

A intervenção da Itália (com início em 10 de Junho de 1940) na Segunda Guerra Mundial como aliado da Alemanha trouxe o desastre militar e resultou na perda das colónias no norte e leste africanos bem como a invasão americano-britânica da Sicília em Julho de 1943 e o sul de Itália em Setembro de 1943.

Mussolini foi demitido como primeiro-ministro pelo rei Vítor Emanuel III da Itália a 25 de Julho de 1943, e subsequentemente preso. Foi libertado em Setembro por pára-quedistas alemães e instalado como chefe de uma "República Social Italiana" fantoche em Salo, no norte da Itália, então ocupado pela Alemanha. Sua política econômica é a socialização. A sua associação com o regime de ocupação alemão erodiu muito do pouco apoio que lhe restava. A sua execução sumária em 28 de Abril de 1945 por guerrilheiros, durante uma fase final da guerra particularmente violenta, foi vista por muitos observadores então como o final apropriado para o seu regime.

Após a guerra, os resquícios do fascismo italiano reagruparam-se largamente sobre a égide do "Movimento Social Italiano" (MSI) neo-fascista. O MSI coligou-se em 1994 com a antiga "Democrazia Cristiana" conservadora para formar a Alleanza Nazionale (AN), que proclama o seu compromisso com o constitucionalismo, o governo parlamentar e pluralismo político.

[editar] Fascismo e Paganismo

Durante as décadas do Fascismo, o Paganismo não alcançou a mesma expressão pública obtida durante o Nazismo.

Benito Mussolini não parece ter sido um grande entusiasta do paganismo, como Adolf Hitler. Mussolini considerava-se no entanto um admirador do risorgimento italiano, onde pontificara por exemplo a obra, com assinalável componente pagã, de Giosuè Carducci .

Na primeira fase do Fascismo, Mussolini não hostilizou a Igreja Católica, tendo inclusive subscrito o Tratado de Latrão, através do qual se reconhecia estatuto político ao Estado do Vaticano, e formalmente a sua independência de acção dentro de Itália.

Mas muito mudou no início da década de 1930, com as medidas que Mussolini tomou contra a liberdade de ensino da Igreja, e a proibição da Acção Católica. É nessa altura que o Papa Pio XI reage condenando os erros do Fascismo com a Encíclica Non abbiamo bisogno.

Na luta entre o Estado Fascista e a Igreja Católica, desperta então a adormecida componente anticlerical do primeiro fascismo dos fasci di combattimento. Mussolini, ao definir a sua doutrina em 1932, paga já tributo intelectual aos anticlericais Giuseppe Mazzini e Ernest Renan.

E é pela mesma época que começa a ganhar importância o paganismo, acolhendo-se o pensamento do filósofo Julius Evola e do seu ramo Nietzschiano do fascismo, saturado de gnosticismo e de misteriosos e antigos cultos pagãos . Nos anos de 1930, Julius Evola torna-se cada vez mais influente no seio do regime fascista através dos seus amigos Bottai e Roberto Farinacci. Com o estabelecimento do Eixo Roma-Berlim, em 1937, o influxo do paganismo alemão activa ainda mais o paganismo italiano, em guerra aberta com a Igreja Católica . Evola, se bem que se considerasse um racista “espiritual” por oposição ao racismo “materialista” do Nazismo, estava no auge da sua influência no regime fascista quando se proclamaram as leis raciais de 1938.

No pós-guerra, Evola vai manter-se um filósofo activo, vindo a ser um dos autores de referência do paganismo presente em alguns círculos neofascistas da actualidade . Os escritos de Alain de Benoist são outra das suas referências fundamentais .

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